O que o Slow Fashion e a Moda Eco Friendly têm a ver com o futuro do nosso planeta?
Atualizado: 16 de Jul de 2019
É cada vez mais comum ver pessoas de diferentes faixas etárias se questionando sobre a maneira como vivem. O que compramos, o que comemos, o que vestimos – hoje compreendemos que tudo afeta nosso planeta. Por isso, precisamos reconsiderar nossos padrões de consumo, repensar e adotar novas práticas mais sustentáveis, como o Slow Fashion e a Moda Eco Friendly.
“Práticas sustentáveis”, “Slow Fashion”, “Moda Eco Friendly”… você já ouviu esses termos, mas ainda não conhece ao certo o que significam e qual a relação entre eles? Então continue lendo, porque preparamos esse post com tudo o que você precisa saber para entender por que a sustentabilidade e a moda devem andar de mãos dadas:
Desvendando a Sustentabilidade e o Desenvolvimento Sustentável
A ONU (Organização das Nações Unidas) define o desenvolvimento sustentável como o tipo de desenvolvimento que supre as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de conseguirem atender às suas próprias necessidades.¹
Em outras palavras, todos nós sabemos como é importante que as nações consigam obter bons índices de crescimento em suas economias, mas também é crucial que tanto os países quanto os grandes conglomerados multinacionais entendam todos os aspectos negativos que um crescimento econômico desmedido e desenfreado pode ter no meio ambiente e no bem-estar das pessoas.
Pensando nisso, a ONU criou em 2015 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): 17 eixos que orientam um plano de ação para aumentar as chances de que metas como a erradicação da pobreza e da fome, a diminuição das desigualdades e a proteção da biodiversidade sejam cumpridas plenamente até 2030, colocando as nações num caminho cada vez mais pautado pela sustentabilidade.
A sustentabilidade e a moda
Agora você pode estar se perguntando algo como “e o que a moda tem a ver com isso?”. A resposta é bem simples: tem TUDO a ver. A indústria da moda é um elemento chave para o êxito dos ODS da ONU na próxima década, e alguns dados² nos ajudam a entender o porquê.
A moda:
É uma indústria que atingiu o valor de 2.5 trilhões de dólares em 2017;
É responsável por 20% do desperdício de água em escala global (só a produção de uma camiseta de algodão requer 2.700 litros de água, quantidade que uma pessoa consome ao longo de 30 meses);
Emprega 75 milhões de pessoas diretamente, sendo que a força de trabalho é composta majoritariamente por mulheres;
Emite de 8 a 10% dos gases de efeito estufa no mundo;
Gera MUITO desperdício: 500 bilhões de dólares são perdidos anualmente devido à subutilização de roupas e à falta de reciclagem.
Levando em conta somente essas informações, fica claro que a cadeia de produção das roupas não só perpassa tópicos como geração de renda, trabalho, pobreza e gênero, como também tem influência massiva em questões ambientais urgentes (como, por exemplo, o aquecimento global e a gestão dos recursos hídricos e dos aterros sanitários).
É justamente por essas conexões que Michael Stanley-Jones, co-secretário da Aliança pela Moda Sustentável, afirma que a moda “é o maior desafio e a maior oportunidade do desenvolvimento sustentável” na atualidade.³
Por isso, ao pensar em sustentabilidade na moda, devemos considerar três grandes categorias: a ambiental, a social e a comercial. O Ethical Fashion Forum, por meio de sua iniciativa Common Objective, define cada uma dessas categorias da seguinte maneira:
Ambiental: minimizar o impacto ambiental das operações e dos processos nos ciclos de produção. Alguns exemplos de boas práticas nesse eixo são a redução do uso de substâncias químicas e de pesticidas tóxicos; a utilização de fontes de energia mais eficientes e de tecidos eco friendly, (ou seja, que são amigáveis ao meio ambiente); e, por fim, a diminuição do uso de água.
Social: aumentar o bem-estar das pessoas e das comunidades envolvidas com a indústria da moda. Isso pode ser atingido com a prática da remuneração justa, com a garantia de condições de trabalho éticas e com o cumprimento efetivo dos direitos trabalhistas.
Comercial: produzir produtos e serviços de qualidade que suprem as necessidades e demandas do mercado e que, ao mesmo tempo, são comercializados de forma justa. Algumas ações para atingir esse eixo são contrabalancear o fast fashion, criar cadeias de abastecimento sustentáveis e aumentar a conscientização das pessoas sobre práticas sustentáveis.⁴
A importância do Slow Fashion nesse cenário
Quando se fala em contrabalancear o fast fashion, é necessário entender primeiro no que esse modelo de produção implica. O fast fashion é aquela “moda rápida”, marcada pelo lançamento sucessivo de coleções e pela renovação muito veloz das peças em exibição nas araras das lojas.
Com isso, uma quantidade enorme de recursos é despendida em intervalos de tempo cada vez menores. Como se não bastasse, em meio à dinâmica frenética de produção do fast fashion, muitas vezes não há fiscalização das condições de trabalho – que podem ser insalubres e, em diversos casos, até análogas à escravidão.
Assim, torna-se urgente pensar em alternativas para contrapor esse modelo. O Slow Fashion chega para redefinir e ressignificar a maneira como nós produzimos, consumimos e nos relacionamos com as nossas roupas.
O que exatamente é o Slow Fashion?
Ele é um conjunto de valores e práticas na moda e faz parte do movimento slow, surgido em meados da década de 80 com o Slow Food Movement, que questiona a lógica dos fast foods e valoriza a produção local de alimentos.
Desde então, o movimento se expandiu para várias áreas e tem sido marcado pela contraposição ao ritmo acelerado da vida nas grandes cidades. Viver num ritmo slow não significa viver devagar; na verdade, o movimento slow favorece a qualidade e não a quantidade e prega que cada coisa em nosso cotidiano seja feita em seu próprio tempo.
O termo “Slow Fashion”, por sua vez, foi cunhado por Kate Fletcher (professora do Centre for Sustainable Fashion), e apareceu pela primeira vez em um artigo escrito por ela em 2007 para o portal The Ecologist.
No artigo, Kate ressalta que a moda, assim como o Slow Food, precisa ser pautada pela qualidade. A abordagem do Slow Fashion busca incentivar estilistas, compradores, varejistas e consumidores a estarem mais cientes do impacto dos produtos nos trabalhadores, nas comunidades e no ecossistema.⁵
Para resumir, o Slow Fashion defende:
A qualidade das roupas em detrimento à quantidade das peças;
A mudança de consciência do consumidor, fazendo-o questionar a necessidade de sempre consumir mais e desenfreadamente;
O ato de pensar no ciclo de vida de cada peça e na durabilidade dela;
A sustentabilidade em todas as etapas do processo de produção e o uso consciente de recursos;
A remuneração justa para a mão-de-obra e a garantia de condições dignas e éticas de trabalho;
A transparência em todas as etapas do processo;
O incentivo a negócios locais e a marcas nacionais de Slow Fashion.
Um importante aliado do Slow Fashion e da sustentabilidade na moda é o Fashion Revolution, movimento criado em protesto ao desabamento do Rana Plaza, em Bangladesh – uma tragédia com contornos criminosos que causou a morte de mais de mil trabalhadores da indústria têxtil.
O Fashion Revolution encabeça a campanha #QuemFezMinhasRoupas, que visa promover uma conscientização cada vez maior sobre os impactos da moda no mundo. Além disso, o movimento realiza, todos os anos, a Fashion Revolution Week, uma semana voltada para o debate sobre a moda sustentável – atualmente, o evento acontece em mais de 100 países ao redor do globo e também está presente no Brasil.
O papel da Moda Eco Friendly
Outro movimento que também pauta a sustentabilidade é o Eco Friendly, que visa promover produtos e serviços “amigáveis” à natureza. Assim como o slow movement, ele também está presente em vários setores, inclusive na moda; a diferença em relação ao Slow Fashion é que a Moda Eco Friendly se insere no debate num fator um pouco mais específico: seu foco está no impacto ambiental.
A Moda Eco favorece a utilização de materiais orgânicos e de tecidos que não agridem (ou que agridem minimamente) o meio ambiente. Algumas das principais práticas Eco Friendly são:
pensar estrategicamente nas matérias primas e nos itens que estão no final da cadeia produtiva, como as embalagens;
empregar técnicas de tingimento menos poluentes;
reavaliar e otimizar o uso de água.
selecionar com cuidado os fornecedores, levando em consideração como suas fábricas operam e como gastam recursos hídricos e elétricos.
Em conclusão...
O Slow Fashion e a Moda Eco Friendly desempenham papéis essenciais na busca por uma indústria da moda mais sustentável e consciente.
Como mostramos nesse post, tudo está relacionado! Não há mais como pensar isoladamente nas roupas que nós usamos sem considerar tudo o que está por trás da fabricação delas – seja os impactos para o meio ambiente, as condições de trabalho das pessoas que atuam no ciclo de produção ou a nossa própria necessidade de ter e querer sempre mais.
Por isso, é imprescindível que você – consumidora ou consumidor – reconheça que é parte atuante dessa cadeia. Nesse cenário, em meio a todas as questões ambientais e sociais entrelaçadas à indústria da moda, fica cada vez mais difícil ignorar o fato de que comprar é um ato político sim.
Por isso, se informe, se desafie a mudar hábitos antigos e procure por novas alternativas, novas possibilidades e – por que não? – novas marcas que estão pautando o Slow Fashion e a Moda Eco Friendly no Brasil. Aproveite e saiba mais sobre os valores e a história da Vibra e descubra que é possível fazer parte dessa mudança!
Referências:
¹ https://www.un.org/sustainabledevelopment/blog/2015/09/what-is-sustainable-development/
²
https://unfashionalliance.org &
https://www.worldwildlife.org/stories/the-impact-of-a-cotton-t-shirt
⁴
www.commonobjective.co/ & https://entsight.com/reports/sustainable-fashion-report
⁵